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NASCE A ASSEMBLEIA DE DEUS


MOMENTOS DA HISTÓRIA

Com um número tão pequeno, mas valoroso no Espírito, estavam lançadas as bases do Movimento Pentecostal, cujas raízes se estenderiam por todo o solo brasileiro com o nome de Assembleia de Deus.
Aqueles irmãos que foram desligados da referida Igreja Batista, juntamente com os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, não recuaram. Antes, convidaram os missionários para pastoreá-los, passando a se reunir em uma espaçosa sala na residência do casal Celina e Henrique Albuquerque.
A gloria do Senhor se manifestava naquele lugar entre o pequeno rebanho. Urgia, portanto, organizar o Movimento. Como eles não poderiam ficar de braços cruzados diante de tão grande mover do Espírito Santo, no dia 18 de junho de 1911, por deliberação unânime, foi fundada a Missão de Fé Apostólica, posteriormente denominada de Assembleia de Deus.
O termo Assembleia de Deus, dado à novel igreja, não tem uma origem definida. Entretanto, supõe-se que esteja ligado às igrejas que na América do Norte professavam a mesma doutrina e receberam a denominação de Assembleia de Deus ou Igreja Pentecostal.
Sobre isto, é aceitável o seguinte testemunho do presbítero Manoel Maria Rodrigues:
 Estou perfeitamente lembrado da primeira vez que se tocou neste assunto. Tínhamos saído de um culto na Vila Coroa. Estávamos na parada do bonde, na Bernal do Couto, canto com a Santa Casa de Misericórdia. O irmão Vingren perguntou que nome deveria se dar à igreja, explicando que na América do Norte usavam os termos Assembleia de Deus ou Igreja Pentecostal.
Aqueles irmãos depois concordaram que a igreja deveria ser chamada de Sociedade Assembleia de Deus e, no dia 11 de janeiro de 1918, foi registrada oficialmente com esse nome. Algum tempo depois, passou a ser chamada de Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
PENTECOSTAIS EM AÇÃO
 Organizada a igreja, os pioneiros tiveram melhores condições de realizar o trabalho para o qual foram designados por Deus. Gunnar Vingren foi escolhido como pastor do novo rebanho e, como presbítero, foi designado o irmão Manoel Maria Rodrigues. O trabalho crescia, pois o Senhor Jesus continuava a salvar, curar e batizar com o Espírito Santo.
Imediatamente, Daniel Berg e Gunnar Vingren começaram a realização de cultos públicos em vários lugares, principalmente nas casas dos irmãos, onde outrora a igreja a que pertenciam havia realizado cultos. Isso aconteceu cerca de sete meses após a chegada dos missionários no Brasil. Dessa maneira, graças à bondade e à misericórdia de Deus, no início do século passado, iniciou-se o maior fenômeno evangelístico pentecostal no Brasil.
No início, o irmão Gunnar Vingren pouco viajava, pois sua missão era pastorear o pequeno rebanho, além de orar muitas vezes dias e noites inteiros pelo sucesso da obra do Senhor. De acordo com Efésios 4.11, ele era apóstolo e mestre, além de pastor da igreja, pois sua vocação e chamada ministerial eram essas.
Daniel Berg, pelo mesmo princípio bíblico, além de apóstolo, era evangelista. Ele tinha particular êxito no trabalho de evangelização pessoal, na venda de livros e distribuição de passagens bíblicas, o que lhe dava oportunidade de testificar a muitas pessoas, de casa em casa e nas viagens que empreendeu ao interior do Pará. Na época, mesmo tendo um escasso vocabulário em Português, no momento exato o Espírito Santo punha as palavras certas na sua boca. A sua mensagem era simples, e ele dizia sempre a todos com quem falava:
 Jesus Cristo salva, batiza com o Espírito Santo e cura os enfermos, e voltará em breve.
Com a expansão da obra, o inimigo de nossas almas levantou-se e moveu perseguições de todas as formas contra a novel igreja. Tornou-se comum a distribuição de folhetos contendo afirmações injurio­sas, bem como os ataques da imprensa por parte daqueles que não aceitavam a existência e a posição doutrinária da igreja nascente.
Casas que serviam para pontos de pregação foram apedrejadas. Havia insultos, levantes e algazarras tais que muitas vezes requeriam a intervenção da polícia. Mas o Senhor, que não desampara os seus, se manifestava com o conforto do Espírito Santo e o estímulo necessário, animando seus filhos por meio de profecias, como a seguinte, datada de 1913.
Profecia recebida. Era uma manhã de domingo, dia 25 de março de 1913. Os irmãos estavam reunidos em oração, quando o Senhor falou profeticamente: 
Paz seja Convosco! Eu sou o Senhor que vos amei, que vos chamei para que me sejais testemunhas entre os homens, do meu poder e do meu grande amor para com os pecadores. Alegrai-vos, meus filhos, porque eu estou convosco para vos dirigir no caminho dos céus.
Pouco tempo tendes para lutar. Sede, pois, corajosos ao confessar o meu nome, e crede, meus filhos, eu sou o Senhor que sonda os corações; não vos deixarei envergonhados, e todos conhecerão que Eu, o Senhor, e Todo-Poderoso, estou convosco.
Tranqüilizai-vos e não penseis em vossos corações: “O Senhor tarda em vir”. Guardai-vos na minha Palavra, que é a vossa luz; e a minha Palavra, que vos tenho dado, é a verdade. Eu sou a verdade. Eu sou a luz. Segui-a. Eu vos mostrarei a verdade da vida e os mananciais de águas vivas.
Alegrai-vos porque eu vos remi com o meu sangue, que derramei por vós. Dai glórias ao vosso Rei e crede que cedo estareis comigo face a face. Eu sou o Senhor, tenho dito.
Meu filho (para Gunnar Vingren), atenta os teus ouvidos e abre o teu coração e ouve a voz do teu Senhor que te chamou, porque assim aprouve ao Pai, para que por ti sejam ajuntadas as minhas ovelhas dispersas neste País. Crê, meu filho, uma grande obra eu tenho confiado a ti. Não desfaleças de teu ânimo nem indagues: Quem me ajudará?” — porque Eu, o Senhor, estou contigo. O Espírito Santo te revelará tudo quanto necessitares.
Lembra-te, meu filho, que o meu amor por ti foi perfeito, com o meu sangue eu te amei, com o Espírito Santo eu te ungi, para que clames em meu nome vida, paz e perdão para os pecadores. Não desprezes nenhuma palavra de todas que tenho dado porque, a seu tempo, todas serão cumpridas.
Apascenta o meu rebanho, anima-o com o exemplo da tua fé. Chega-te mais a mim, e eu te mostrarei verdes pastagens e frescos regatos onde os conduzirás. Guarda-te na obediência, fica debaixo do meu sangue. Far-te-ei vencedor sobre todos os inimigos. Não andes apressadamente. Sê paciente, fortalece-te na fé, no amor, e serei contigo.
Eis que eu, o Senhor, assim o quero: que todos andem em obediência à tua voz, e crê que eu vou manifestar mais e mais o meu poder. Eis que venho breve!

Deus continuava a abençoar o trabalho, que pouco a pouco se estabilizava na cidade. Daniel Berg continuava empreendendo viagens pelo interior. Os riscos das viagens eram compensados pela aceitação da mensagem divina por pessoas sedentas de conhecerem a Deus. Enquanto isso, o Senhor o livrava de perigos e de doenças, entre as quais cólera e malária, além de outros inimigos naturais da região.
Mas a semente caiu em boa terra, vingou e cresceu. Da Rua Siqueira Mendes, a sede da igreja foi transferida para a Av. São Jerônimo, n° 224 (numeração antiga), para a casa pertencente ao irmão José Batista de Carvalho; lá permaneceu até oito de novembro de 1914, quando foi transferida para a Travessa Nove de Janeiro, n° 75 (numeração antiga). Havia, porém, pontos de pregação nas vilas Coroa e Guarany.

Primeiros obreiros. O irmão Gunnar Vingren, apesar de a igreja estar ainda em sua fase inicial, já se preocupava com o trabalho evangelístico e missionário. Ele procurou despertar esse espírito entre os brasileiros salvos por Jesus Cristo. Como resultado, dentro de pouco tempo surgiram obreiros vocacionados para um trabalho de âmbito nacional, tais como: Isidoro Filho (1912) e Absalão Piano (1913), os primeiros pastores pentecostais consagrados no Brasil; além de Pedro Trajano (1914), Crispiniano Melo (1915) e Adriano Nobre (1915).
Ainda em 1913, o irmão José Plácido da Costa foi designado como missionário e foi o primeiro desta igreja a levar as boas novas ao povo português.
Gunnar Vingren e Daniel Berg tiveram como auxiliares na igreja, os seguintes irmãos: Pedro Trajano Pinheiro (1915-1917); Adriano Nobre (1916-1917); Almeida Sobrinho (1916-1924); Samuel Nyström (1917-1924); Bruno Skolimowsk (1922-1924); Nels Nelson (1921-1924).

Uso da imprensa. Em 1° de novembro de 1917, foi publicado, em Belém do Pará, o primeiro jornal pentecostal no Brasil. Sob o título Voz da Verdade, ficou sob a responsabilidade dos pastores Almeida Sobrinho e João Trigueiro. Foram impressos dois números. O jornal tinha a sua sede na rua Demétrio Ribeiro, n° 8-C. Esse jornal deixou de circular no mês de janeiro de 1918.
Em 1917, nos porões do primeiro templo da Igreja em Belém e no Brasil (na Trav. Nove de Janeiro, n° 75), foi criado um serviço de tipografia que começou a editar o jornal Boa Semente – e outras publicações, tais como calendários, hinários, estudos para Escola Bíblicas, revistas da Escola Dominical. A princípio, o jornal foi distribuído gratuitamente, mas depois passou a ser vendido.
Gunnar Vingren era o diretor, tendo como colaboradores os irmãos Samuel Nyström e, depois, Nels Julius Nelson. Lançado em 1919, este jornal circulou até 1930, funcionando como o órgão oficial de comunicação da Assembleia de Deus no Brasil, quando foi substituído pela publicação do Mensageiro da Pazque permanece até hoje.
Em 1925, Samuel Nyström, sentindo a necessidade de um auxiliar na redação do jornal Boa Semente, trouxe Plácido Aristóteles Tavares do Canto, que há tempo conhecera em Recife, para ajudá-lo, posto que era um homem de reconhecida capacidade literária e cujo testemunho era positivo e profícuo no trabalho do Senhor.
Transcrevemos, a título de curiosidade, fragmentos do primeiro número do jornal Boa Semente:

A Igreja Pentecostal no Brasil, sentindo há tempo a necessidade de uma publicação de sua fé, na qual melhor se pudesse conhecer os escritos da Bíblia Sagrada, vem, hoje, preencher esta necessidade, com o presente jornal. Tal é o motivo que traz à luz o Boa Semente.

E mais abaixo:

A nossa atitude, pois, para com todos os crentes de qualquer denominação, é esta: não queremos desunião, nem discussão. Queremos, é certo, falar a verdade do Senhor. Queremos, sim, anunciar todo o conselho de Deus.

Onze anos depois, o jornal Mensageiro da Paz publicou, sem muitos aparatos, o seguinte:

Conforme determinou a Convenção em Natal, o Mensageiro da Paz veio substituir os periódicos “Som Alegre” e “Boa Semente”, que se fundiram em um só jornal, que passará a ser o Órgão das Assembleias de Deus no Brasil.[1]

Em 1920, o irmão Gunnar Vingren viajou pelo País, visitando e confirmando os trabalhos organizados. Em 1921, por motivo de doença, viajou para a Suécia, onde fez conhecida de todos a obra que Deus estava fazendo no Brasil, despertando assim mais o zelo missionário dos seus patrícios. Com isto, muitos jovens deixaram o conforto da sua pátria e vieram para o Brasil, entre eles Samuel Nyström, que depois veio a substituir Gunnar Vingren no pastorado da Igreja em Belém.
Em 1921, foi realizada a primeira Convenção Paraense, tendo como sede a cidade de São Luís, Município de Igarapé-açu, na Estrada de Ferro de Bragança. Em Belém, no período de 18 a 22 de agosto de 1921, teve lugar a primeira Escola Bíblica, que congregou um bom número de obreiros, os quais se reuniram para melhor se prepararem para o servi­ço de Deus, tendo grande atuação na ministração de estudos bíblicos o irmão Samuel Nyström.
Quando auxiliava Gunnar Vingren na Igreja em Belém, Samuel Nyström foi enviado para Manaus, onde fundou a Assembleia de Deus no Amazonas, em 1º de janeiro de 1918. Ele abriu trabalho também em Rio Branco (AC), retornando a Belém em 1922.


MANOEL MARIA RODRIGUES

Pela importância de sua participação no nascimento da Assembleia de Deus e pelo trabalho que realizou ao longo do tempo, merece destaque o irmão Manoel Maria Rodrigues.
Nascido em 22 de dezembro de 1893 na pequena Vila de Esgueira, distrito de Aveiro, Portugal, Manoel Rodrigues era filho de Julio Maria Rodrigues e Luzia Gonçalves de Jesus. Bem jovem ainda e recém casado com uma moça espanhola de nome Jezusa Dias, imigrou para o Brasil, fixando residência em Belém do Pará.
Em Belém, entrou em contato com o evangelho e decidiu entregar-se a Cristo, sendo batizado em águas pelo pastor Almeida Sobrinho, na Primeira Igreja Batista de Belém, em 09 de maio de 1909. Muito estudioso da Bíblia e dedicado à fé que abraçara, veio a ser consagrado diácono daquela igreja, cargo que exercia com eficiência e piedade cristã.
Nesta condição ele estava quando, em 1910, chegaram ao Brasil os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren. Verdadeiro investigador da verdade, Manoel Rodrigues e sua esposa Jezusa Dias vieram a ser contados entre os que foram desligados da Igreja Batista e fundaram a Assembleia de Deus.
O Mensageiro da Paz, na reportagem que noticiou o seu falecimento, descreveu:

Diga-se, a bem da verdade, que o irmão Manoel Rodrigues chegou até a ser esbofeteado no rosto... pelo crime de manter a sua liberdade de crer em Jesus conforme a sua consciência... mas nada o abalou; permaneceu firme confessando que Jesus batiza atualmente aquele que crê no batismo com o Espírito Santo, e por este motivo foi excluído.[2]

            Ainda no nascedouro da igreja, foi separado como presbítero, o primeiro a ser consagrado.
Em 1914, zeloso de seus deveres filiais, Manoel Rodrigues resolveu regressar a Portugal, a fim de levar a mensagem do evangelho a seus velhos pais e irmãos que ali deixara. Deus o abençoou grandemente em Portugal, onde também foi um dos pioneiros da obra pentecostal. Entre aqueles que ali ganhou para Jesus, se destacou como verdadeiro valor espiritual e evangelístico o pastor Rogério Ramos Pereira.
            De Portugal, Manoel Rodrigues foi para a Argentina, a fim de encontrar alguns parentes e amigos, a quem se sentia no dever de evangelizá-los. Assim, mais um trabalho pioneiro lhe foi confiado por Deus, pois na sua residência em Buenos Aires foi que nasceu a Assembleia de Deus da Argentina. Depois disso, ele voltou para Belém.
            Tendo completado a sua missão na terra, o Senhor Jesus o chamou ao descanso eterno quando se passavam quinze minutos das 14h do dia 19 de maio de 1969, onde agora está aguardando a coroa da justiça, que lhe será dada pelo Justo Juiz.

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